quinta-feira, 15 de julho de 2010

Impressões 01

Muitos me perguntam como está sendo aqui no Haiti, profissionalmente estamos aprendendo muito mais do que qualquer outra coisa. Oscilo da angustia pelas coisas não andarem da maneira que acho que poderia amenizar um pouco as chagas deste povo, ao entusiasmo idealista de achar que as coisas vão certamente caminhar na direção que desejo. No início nutria por este povo respeito pela façanha histórica que realizaram, os via como primos distantes, desses que conhecemos por fotos. Entretanto hoje os vejo como irmãos, me acolheram muito bem, mesmo não entendendo nada de Francês e muito menos de crioulo(Krèyol), sei que muitas vezes temos identificação de classe...

Apesar de todas as dificuldades que enfrentam diariamente, fazem o máximo para que me sinta em casa e isso ajuda a superar a saudade de todas as pessoas que amo no Brasil. Fora os haitianos temos latinos americanos oriundos da centro América, nada que o portunhol não resolva...

Uma das coisas que me chamou muito atenção foi o fato de eles serem um povo extremamente fanático por futebol, a grande maioria torce enlouquecidamente pelo Brasil e alguns pela Argentina, afinal ninguém é perfeito. Mas não é apenas uma relação de torcer por um esporte, é uma relação extremamente diferente são alucinados, segundo o pessoal que já estava aqui me relatou, quando o Brasil ganhou o jogo contra o Chile, Porto Príncipe parou, pessoas nas ruas festejando, uma loucura.

Com lagrimas históricas para serem choradas é compreensível que o futebol cause esta histeria na população, se no Brasil serviu para colocar a ditadura em segundo plano em 70, e ainda podemos duvidar que talvez não seja por acaso que as eleições presidenciais ocorram na mesma época da copa. Imagine em um país que ocupa a 149° posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano em uma lista de 189 países, computados pela ONU. Cujo segundo dados do próprio governo haitiano divulgados pelo Institut Háïtien de Statistique et d´Informatique, 50% da população do campo e 18% na cidade não sabe ler e escrever. Inclusive a educação por aqui é um grande negócio, praticamente não existe política de estado, diria que atualmente não existe estado. Políticas sociais aqui, são inexistentes, pensar em um estado capaz de articular uma malha social de proteção à infância, diria que é melhor crer em Papai Noel, quem sabe não se ganha um presentinho. Logo o que encontramos aqui é, falta escola publica, falta de hospital, falta de programa de destinação de lixo, enfim diria para os brasileiros que o Brasil, perto do Haiti é uma mãe.

Um comentário:

  1. É surreal pensar em algo tão distante da nossa realidade. Isso porque o Brasil não é um super modelo de política pública, porém elas existem, com todas as resalvas que podem ser feitas, claro...

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